sexta-feira, 27 de outubro de 2017

Divulgação: As Lágrimas de Aquiles


São raras as vezes que faço, aqui no blogue, divulgação de livros mas quando são alguns dos meus autores preferidos, faço-o com todo o gosto.
Desta vez é um pouquinho diferente. 
As palavras da responsável de comunicação tocaram-me bastante, e ainda por cima, aborda a Guerra do Ultramar e esse é um tema que, julgo, não ser muito explorado na literatura.
Sabem o que me veio à cabeça enquanto lia a sinopse?
A música Aquele Inverno dos Resistência.

O livro é As Lágrimas de Aquiles de José Manuel Saraiva.



Só quem viveu a Guerra a pode descrever assim, como um tiro certeiro, que magoa e deixa marca. como nesta obra a meio caminho entre a ficção e a realidade. As Lágrimas de Aquiles, uma obra a meio caminho entre a realidade e a ficção, é um daqueles livros que se vão revelando à medida que passamos as páginas, um romance marcante sobre amores que vencem lutas armadas, tempo e distância, dores, traumas, sofrimento.

A carta de suicídio transcrita nas primeiras páginas deste livro como que prepara o leitor para o que aí vem. A linguagem é crua, sem subterfúgios, dando a cada momento a força certa.

Na intimidade daqueles pequenos espaços que nos resguardavam do perigo éramos todos da mesma condição. Nada nos distinguia. Porque era comum aos oficiais, sargentos e soldados o terror, o medo e a presunção da morte. (pág. 102)

Baseado nas experiências do autor na Guerra do Ultramar, As Lágrimas de Aquiles ficciona não apenas sobre o amor, a saudade ou a guerra mas também sobre as escolhas que determinam a nossa vida.

A Guerra Colonial tinha acabado há mais de 20 anos quando o ex-alferes Nuno Sarmento decide voltar à Guiné, numa busca do seu passado perdido. Nas matas onde viu morrer e foi morrendo, onde se faziam emboscadas e ataques, encontra apenas o desgosto e as lembranças mais dolorosas de uma guerra sem causa clara, em que parece que se perdeu mais do que se ganhou.

Ninguém tem saudades da guerra. Mas não gostaria de morrer sem voltar aqui, onde deixei perdidos dois anos da minha juventude. (…) Acho que devemos voltar sempre aos lugares que um dia foram nossos, mesmo que o tenham sido pelas piores razões. (pág.109)

Apenas um jovem estudante da Universidade de Coimbra quando tinha sido chamado às fileiras, deixara em Portugal a esperança de um futuro melhor e um amor à espera. Ao voltar do Ultramar, o amor já não esperava e ele próprio já não era o mesmo. Só tinha encontrado esquecimento, desilusão e a insistente dúvida sobre se tudo teria valido a pena.

A guerra tinha acabado, era certo; mas, dentro dele, não existiam tréguas.

A guerra é uma barbaridade, seguramente a mais inútil das tragédias, mas é também um acto único. É uma espécie de jogo de sorte e de azar; um jogo em que se está e de repente não se está. Entre a vida e a morte passa um fio de nada, um sopro ligeiro, um assobio breve, ás vezes tão breve como o instante de um beijo secreto à despedida.

Tudo se cumpre no exacto limite dos sentimentos, nas fronteiras precisas do medo e da
coragem. (pág. 123)

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